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Marina

Tecidos: como montar uma coleção legal & onde comprá-los



Sempre que compartilho algum projeto de costura em andamento no insta ou posto fotos do atelier, alguém me escreve pedindo indicações de onde comprar tecidos. Por isso resolvi montar um guia que ficasse permanente aqui no blog para quem está atrás de encontrar tecidos bacanas para seus próprios projetos. E, não apenas isso, aproveito também para contar como eu fui, ao longo dos anos, colecionando os tecidos que hoje uso nos projetos do atelier, e assim quem sabe isso também possa ser útil pra quem está a procura de começar a montar sua própria coleção.


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Antes de mais nada, gostaria de falar de algo acho relevante lembrar: nem toda artista ou artesã se sente confortável em dividir seus fornecedores, ou onde compram seus materiais de trabalho, e é super importante que esta decisão seja respeitada. Chegar na combinação perfeita de materiais e fornecedores é uma parte enorme (e invisível) no processo de quem cria, com muito tempo, energia e recursos sendo investidos. Sabe aquela metáfora do iceberg, onde o trabalho artístico que a gente tanto admira é apenas uma pontinha do todo, e parte enorme do processo fica submerso e longe dos olhos da maioria (e justamente por isso, é altamente desvalorizado)? A curadoria de materiais está justamente nesta parte debaixo, e é uma decisão pessoal de cada artista se este é ou não um aspecto que ela quer compartilhar, sobretudo quando a artista em questão tem sua criação como fonte total ou parcial de renda. ———


A eterna busca

Muitas vezes eu sinto que quando alguém me procura para saber de onde vem os tecidos que uso, o que no fundo esta pessoa está realmente querendo saber, é não apenas sobre um tecido específico e onde encontrá-lo, mas sim como chegar naquele resultado final – na combinação de vários tecidos bonitos que ficam bem juntos.


Ainda que existam muitas opções de tecidos pré-coordenados – especialmente as voltadas para o mundo do patchwork, em que as tecelagens lançam coleções onde os tecidos possuem estampas e cores que já combinam entre si – eu adoro a personalidade que se imprime em qualquer projeto quando os tecidos usados são provenientes de uma curadoria mais aleatória, vinda de muitas fontes diferentes.


Por aqui, meu estoque de tecidos começou a se formar há quase 20 anos. Ainda tenho alguns que datam da época de faculdade, remanescentes de projetos que desenvolvi nos anos em que cursava desenho de moda. Ao longo do tempo fui acumulando pequenas metragens aqui e ali, para projetos de encadernação ou outras coisinhas, mas foi só quando voltei a desenvolver trabalhos com costura (em 2018) que voltei a procurar ativamente por tecidos para montar um estoque legal, sonhando com uma prateleira cheia de tecidos lindos com texturas e cores que me inspirassem a criar.


Logo percebi que encontrar opções que se encaixassem na estética que gosto – cores mais apagadas e estampas miúdas – não é tarefa lá muito fácil no Brasil, onde há sempre maior variedade justamente com características opostas, ou seja, cores fortes e estampas maiores. Por isso entendi que montar o estoque de tecidos do atelier seria uma tarefa eterna. Isso quer dizer que eu estou sempre de olho em achados legais, sempre procurando e garimpando, e se no início eu ficava desencorajada com as poucas opções disponíveis no mercado nacional que satisfaçam meu gosto, hoje acho que esta eterna busca é divertida, me força a pensar fora da caixa, além de ser também o que me inspira a constantemente a criar novas combinações.


Tudo isso para dizer que não tenho uma resposta única para quem me pergunta onde compro tecidos. E acredito que é justamente essa variedade de fontes que torna a criação com eles interessante. Adoro ver um tecido que tenho há anos de repente combinando lindamente com outro que comprei isolado em uma viagem. E este 'serendipity' (feliz acaso, em inglês) é para mim uma das melhores partes de criar. Se vamos confiando cada vez mais naquilo que vez após vez chama nosso olhar, aos poucos todos estes tecidos aleatórios começam juntos a contar uma história cheia de personalidade e estilo única a quem os escolheu.



Onde compro tecidos

Meu lema é o seguinte: qualquer lugar que venda tecidos vale uma visita e uma garimpada, que seja uma boutique de tecidos de decoração ou uma loja bem simples de bairro. Quase sempre dá pra fazer um achado legal, e é justamente quando não estou procurando que acabo encontrando coisas lindas.


Mas justamente por conta dessa pluralidade seria impossível compartilhar aqui todos os lugares onde já comprei tecidos. Assim, listei abaixo apenas aqueles onde acabo comprando com mais frequência. Ah! E lembrando que esta lista tem como foco tecidos para costura criativa e artesanato. Tecidos para moda ou decoração são outra história.


 

Lojas físicas

Minha maneira preferida será sempre comprar tecidos indo à loja para poder ver cores ao vivo e sentir texturas e caimentos. Todas as lojas abaixo ficam em São Paulo, entre as zonas oeste e centro, pois são as regiões de mais fácil acesso para mim.


Center Fabril

Rua Cardoso de Almeida, 63 - Perdizes

// Frequento o Center Fabril desde a época da faculdade. Eles têm uma grande variedade de tricolines lisas e estampadas, mas também tecidos de todos os tipos: linhos, flanelas, malhas e etc., voltados para artesanato, moda e também decoração.


African Artesanato

Rua Turiassú, 1267 - Perdizes

// Possuem uma boa oferta de tricolines de algodão para artesanato (e mais muuuitos outros tipos de materiais).


Rua 25 de Março e arredores

// Vou à 25 apenas quando estou com pique de garimpar e com tempo pra ficar quase o dia inteiro. Para achar coisas legais por lá, não dá pra ter preguiça. Gosto sempre de olhar a Niazi Chohfi (rua 25 de Março, 702), a Fernando Maluhy (rua Jorge Azem, 30) e as lojas da Rua Comendador Abdo Schahin, que é paralela à 25 de março (bônus: minha visita por lá nunca é completa sem almoçar esfihas no restaurante Raful, nesta mesma rua). Para linhos mistos e puros vou na Tecidos Vadinho (rua 25 de Março, 580) e na GJ Tecidos (na rua Ladeira Porto Geral, 73).


 

Lojas online

A pandemia me obrigou a rever o desgosto que sempre tive por comprar tecidos pela internet. Ainda que agora eu tenha me acostumado, compras assim à distância nunca deixarão de ser uma caixinha de surpresas – percebi que posso dizer que amo o tecido que comprei apenas 50% das vezes – mas a internet por outro lado amplia bastante as possibilidades.


Já testei várias lojas de tecido online, mas até hoje a única em que sempre voltei foi a Bazar Horizonte, que tem uma seleção enorme e bem variada. Uso ela principalemente para comprar xadrezes de fio tinto.




 

Outras fontes


// Viagens

Sempre aproveito viagens internacionais para comprar tecidos. A cada novo destino, não deixo de pesquisar se existe uma loja de tecidos perto de onde vou estar. Fico sempre de olho em lojas de antiguidades ou de segunda mão, e também em mercados de pulgas. Dá pra achar verdadeiras preciosidades em lugares como estes. Também adoro encontrar armarinhos de bairro, que tem seleções sempre mais interessantes do que as grandes redes. Ah! E isso vale sempre, mas, especialmente em viagens, dá pra aumentar o campo de busca e incluir também achados de qualquer peça têxtil que seja feita de um tecido legal. Roupas de cama e até mesmo peças de roupas vintage podem ser cortadas e aproveitadas para outros projetos.


//Feiras de artesanato e patchwork

Esta dica veio de uma amiga que um dia comentou comigo que haveria uma feira de patch e scrapbook em São Paulo e me disse que eu poderia gostar. E como gostei! Feiras assim são uma oportunidade maravilhosa para comprar tecidos lindos. As lojas de tecidos para patchwork que vem do Sul tem seleções lindas e muitas opções importadas. As feiras são legais para termos a oportunidade de ver de perto tudo o que lojas de todo o país oferecem. É possivel ficar de olho nas datas ao longo do ano através do site dos organizadores:


//Faça você mesmo

O que para mim completa perfeitamente uma seleção de tecidos comprada é dar um toque pessoal na coleção que temos utilizando o tingimento natural. Uso esse recurso tingindo boas bases lisas – ou seja, um agodão cru, um linho ou uma cambraia bonita que achei na loja mas que só tinha na cor branca – ou então dando um banho de chá preto em tecidos estampados que eu tenha comprado mas cujas cores são muito 'abertas' para meu gosto.


O tingimento natural – especialmente se tiver como intuito criar uma cartela de cores bem variada – é mais complexo e requer um pouco mais de estudo e materiais (postei um tutorial básico aqui). Já a opção do banho de chá preto é super fácil, e me ajuda muito a deixar a coleção de tecidos que tenho visualmente coerente. Já reparou como alguns tecidos estampados tem uma base super branca, e ao lado de outro que tenha o fundo off-white, a combinação não fica tão legal? O chá preto resolve esta questão. Ele também esmaece as cores do tecido de modo geral, tornando algumas estampas mais suaves. Mas não funciona com todas! Em alguns tecidos estampados, a tinta da estampa acaba permanecendo inalterada, então deve-se fazer um teste antes de mais nada, para ver se vale a pena um banho na peça inteira.



–––– Como fazer o banho de chá preto:

O processo é tão simples quanto fazer um enorme caldeirão de chá preto e deixar o tecido de molho nele. A única precaução a se tomar é ter CERTEZA de que o tecido é feito 100% de fibras de algodão ou linho. Qualquer coisa que não seja umas destas duas fibras, não só não vai mudar de cor como estragará o tecido.


Compro o chá preto em lojas de produtos à granel, assim fica bem mais barato e não vêm em saquinhos. Em uma panela grande (que não poderá mais ser usada para fins alimentícios!) aqueça água suficiente para que o tecido que você vai tingir tenha espaço para ficar mais solto, não muito embolado. Quando a água ferver, desligue e tire do fogo. Com um retalho de um tecido de algodão qualquer, faça uma 'trouxinha' recheada de chá preto, amarrando firme com um barbante. Jogue-a na panela (feche bem a trouxinha para que não escapem folhas de chá de dentro). Deixe descansar por alguns minutos enquanto o chá (e ainda bem quente) vai soltando cor na água. Quanto mais forte, melhor. quando a água já estiver bem colorida com o chá, mergulhe o tecido que quer tingir e deixe-o submergido por algumas horas, ou até que a água esfrie. Ao final, descarte a água e o chá preto, torça o tecido para tirar o excesso de água e pendure-o pra secar. Evite enxaguá-lo ou lavá-lo pelos próximos dias, para que a cor fixe bem.


A mudança normalmente é bem sútil – não espere mudanças drásticas – mas você ainda pode tentar repetir o processo se desejar deixar mais forte. O tecido também pegará mais cor se tiver sido previamente lavado com água quente, o que retira as gomas que são aplicadas no fio do tecido durante o processo de fabricação, tornando-o mais propício para ser tingido.


 

Espero que este guia tenha sido útil. Vou tentar mantê-lo sempre atualizado com novas informações. Minha lista de dicas talvez não seja enorme e nem muito nova para alguns, mas acho que a mensagem mais importante que gostaria de deixar é esta: abrace o processo da busca, pesquise na internet, vá às lojas que sempre quis ir. É justamente esta abertura e curiosidade que tornam nosso processo criativo rico e único!



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