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  • Marina

Monte Verde


A primeira vez que visitei Monte Verde foi no feriado de Carnaval de 1999 – eu estava pra completar 12 anos. Sei disso pois está registrado no meu diário daquele ano. Fui com meu pai e sua esposa (uma pessoa que amo demais pra chamar de madrasta, palavrinha ingrata! rs), cuja família possuía uma casa na Av. do Sol Nascente com fundos para Rua do Luar (sempre amei esses nomes). O chalé estava meio esquecido e era pouquíssimo usado pela família, mas depois da nossa visita, viramos frequentadores assíduos. Passávamos semanas inteiras, finais de semana, feriados. A casa reviveu tanto que naquele mesmo ano chegamos a levar para lá minha turma enorme de amigos e amigas, acho que uns 15 adolescentes ao todo (e diga-se de passagem, entre essa galera toda estava o cara que hoje chamo de meu marido – mas essa história é longa e papo pra outra hora).


Nesta época, Monte Verde já era, aos meus olhos, encantadora. Algo naquelas montanhas, no vento soprando em suas árvores, na neblina que descia em dias de frio, tinha um mistério que me fascinava. Talvez me lembrasse de algo, ou um lugar, que eu nunca soube nomear. Mas eu amava a magia daquele lugar, tanto da natureza, quanto o charme da rua principal, que parecia saída de um conto de fadas. Nela haviam lojinhas de artesanato; havia a Merlin, uma loja de fadas, gnomos e outras coisas mágicas (e que ainda por cima ficava em um jardim meio escondido, o que a deixava ainda mais encantada). Haviam casas de chá e restaurantes aconchegantes; havia o festival do morango no inverno… E em todos esses lugares fomos fazendo amigos. Em certo ponto, meus pais já chegavam perguntando por fulana ou cicrano, chamando todos pelo primeiro nome. Ficávamos horas nas mesas dos restaurantes, batendo papo. E eu, com meus olhos de criança, me sentia em casa e adorava cada segundo.


São tantas memórias gostosas: o sol de inverno entrando pelas enormes janelas do chalé, em cujo peitoril eu gostava de me sentar; ouvir a trilha sonora do (recém-lançado) filme 'O Senhor do Anéis' enquanto subíamos a estradinha (naquela época, ainda de terra) na serra que liga Camanducaia a Monte Verde, o clima e as árvores me fazendo sentir dentro do próprio filme; as noites de céu limpo em que contávamos infinitas estrelas cadentes; ou quando, à noite, no meio de uma estrada, meu pai desligava todos os faróis do carro e ficávamos no breu total, perplexos com a imensidão do espaço e de um céu absurdamente estrelado.


Com o passar dos anos e minha adolescência adentrando, as viagens para lá começaram a se tornar um pouco enfadonhas para uma menina de 16, 17 anos, que mais queria estar com os amigos, e que já tinha desfeito o cantinho dos gnomos em seu quarto. Mais alguns anos adiante e o casamento do meu pai, que me ligava àquela casa, foi desfeito. E então Monte Verde se tornou apenas uma bela memória, uma fase da vida.


Foi só em 2013, logo após eu ter saído do meu último emprego para me tornar autônoma, que o Thiago (na época ainda meu namorado - sim, aquele lá de 1999) e eu decidimos passar uma semana por lá, na pousada Nico On the Hill, bem no alto das montanhas. Queríamos descansar em um lugar de natureza e me lembrei de Monte Verde. Nesta viagem, as memórias que estavam adormecidas em mim voltaram a brotar... a magia e a sensação boa que aquele lugar me inspirava, reviveram. Na avenida principal, Monte Verde havia mudado, deixado pra trás um pouco do ar de encantamento... mas a montanha era a mesma, o vento geladinho com cheiro de mato era o mesmo, as florzinhas no caminho eram as mesmas. E desta vez, tudo isso havia fisgado também o Thiago. Começamos a ir para lá sempre que podíamos, sempre que o dinheiro nos permitia pagar uma pousadinha. Caminhávamos muito, sem rumo mesmo — este sempre foi nosso passeio preferido — e olhávamos, curiosos, os chalés e casas de outros moradores. Não demorou muito pra que a gente começasse a sonhar com nosso próprio cantinho. "Imagina um terreno aqui?" "Imagina um chalézinho? Poderia ser bem pequeno... só pra gente poder vir sempre", dizíamos durante nossas caminhadas.


Em agosto de 2014, decidimos passar nossa lua de mel em Monte Verde, que então já havia se tornado o lugar que mais amávamos, e que era perfeito para descansar depois do período intenso de preparativos para o casamento. Nos hospedamos em uma pousada que até então não conhecíamos. Um lugar encantador chamado Provence Cottage & Bistrô, tocada pelo Ari e pelo Whitman. Mal eu sabia que o destino naquele momento estava nos presenteando com amigos para vida. Foi o próprio Ari, que, alguns anos depois, quando perguntamos com quem poderíamos falar sobre comprar um terreno, nos apontou na direção do sr. Raymondo e D. Zilda Kempis – um dos casais que ajudara a fundar a vila de Monte Verde nos anos 50 – e que haviam vendido para eles no passado o terreno onde é hoje a Provence. Resolvemos dar um pulo na casa dos Kempis, "só pra assuntar", dissemos. Não achávamos que poderíamos comprar um terreno naquele momento, mas a curiosidade (e a vontade) eram enormes.


O fato é que quem procura acha, e nossa curiosidade fez com que, nesta visita, nos deparássemos, muito antes do que esperávamos, com um terreno perfeito para nós, exatamente no lugar que em que sonhávamos... e que, ainda que exigisse um belo esforço financeiro de nossa parte, não seria impossível de pagar. Assim, pra nossa surpresa, fechamos o negócio, em junho de 2016. E, em agosto do mesmo ano, fui passar minha semana sabática em um dos chalézinhos dos próprios Kempis, o que me levaria, algumas semanas depois, a criar o Atelier Terrarosa, inspirada na sensação de alegria e plenitude que Monte Verde sempre me fez sentir — e no punhado de terra cor-de-rosa que enfiei no bolso durante uma caminhada em que fui dar um beijo no meu amigo Ari.


Bom, e por que estou contando tudo isso neste blog? Porque eu amo observar os caminhos curiosos da vida; a maneira como a gente anda, anda, anda, muitas vezes achando que está sem direção, mas quando para um pouquinho e olha pra trás, enxerga tudo conectado; uma coisa levando a outra e levando a outra, com uma perfeição e precisão que intenção humana nenhuma conseguiria alcançar. Eu nunca poderia imaginar que um lugar da minha infância estaria tão conectado à minha vida adulta, inspirando meu trabalho, meus desejos de vida e agora, também, sendo o lugar onde irei construir a vida ao lado do meu marido. Pois depois de comprado o terreno, o chalézinho dos nossos sonhos não vingou — por mais que tenhamos tentado, nunca deu certo de ele ser construído, por inúmeros motivos. Mas em lugar dele, veio algo diferente: começamos, há algumas semanas, a construir no terreno uma casa, que será um lar; o lugar onde vamos passar a morar assim que estiver pronta. Olhar pra tudo isso me faz sorrir com boca, olhos e coração.


Da ideia inicial de construir um chalé até começarmos a construção da casa, muita coisa aconteceu, e a história é menos ‘poética’ — cheia do que, no momento em que estávamos vivendo aquilo, enxergamos mais como 'empecilhos' (e uma pandemia no meio, diga-se de passagem). Quero, mais pra frente, escrever sobre tudo isso. Mas por enquanto, o importante mesmo era apenas celebrar este momento, falar sobre a vida e seus tortos, mas lindos, caminhos. E contar que o Atelier está voltando pra casa, pra onde nasceu, e sinceramente, pra onde eu acho que ele vai mesmo poder florescer.



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