Compartilhei este texto no Instagram recentemente. Em partes por ocasião do dia 8 de março — mas a verdade é que ele foi escrito no celular antes de dormir, depois de um surto de inspiração ao ler algumas páginas do livro que cito no texto, "If Women Rose Rooted", da autora Sharon Blackie. Então, na realidade, ele foi mesmo uma grande coincidência; calhou que o dia seguinte era Dia da Mulher. Transcrevo ele aqui para ficar registrado em um lugar mais propenso à textos do que o Instagram. E, também, pra eu me lembrar de voltar a lê-lo sempre que me esquecer de tudo isso da qual ele fala.
Eu realmente acredito que, em um nível mais profundo e último, não temos gênero; não somos homem nem mulher, mas apenas SOMOS. No entanto, nasci nesta vida como mulher e, portanto, como mulher, experimento o mundo. Não posso negar isso.
Costumava pensar que apontar meu gênero era perda de tempo. Mas a verdade é que, quanto mais vivo esta vida, mais entendo que sou uma pessoa melhor e mais feliz quando honro meu corpo de mulher e sua energia feminina.
Para mim hoje, aos 34 anos, viver como mulher significa, acima de tudo, ter um desejo profundo (e também uma grande facilidade) de me render a um tempo que o mundo ‘normal’ não me ensinou. Um tempo fluido que se parece com a fumaça de um incenso queimando. Um tempo em que não existem dias da semana, meses, começos ou fins de anos. Este tempo é governado por uma força invisível, não pelo relógio, nem pelo calendário, nem mesmo pela minha própria agenda. Não tenho nome para isso, mas quanto mais vivo, mais sinto. Este tempo é influenciado pela lua, as estrelas e a terra; pelas estações, pelo clima e até pelas nuvens. Tudo isso parece desempenhar um papel enorme em meus corpos físico, mental, emocional, espiritual (e outros), e quanto mais me rendo a essa força sem nome, mais me sinto à vontade em minha própria pele.
No momento, estou lendo um livro chamado “If Women Rose Rooted”, de Sharon Blackie (que, embora esteja adorando, ainda não recomendarei totalmente, pois estou apenas no começo!). A ideia geral que ele transmite é que, como mulheres, parte do motivo pelo qual sofremos é porque estamos afastadas da sabedoria da terra. Ela afirma como nós mulheres temos a capacidade de ter nossas raízes plantadas profundamente na mãe natureza, vivendo em comunhão com ela; recebendo sua abundância, e por sua vez protegendo-a, sendo protetoras de nossas terras. Mas estamos cortadas do seu ritmo. E pra mim essa mensagem faz todo o sentido, porque mesmo algo tão simples como começar a notar as fases da lua — e me entender e compreender meus humores através delas — teve um resultado marcante em minha vida. Então eu me pergunto o que viver constantemente com os pés descalços no chão pode fazer.
Se como mulher tenho a possibilidade (e a vontade) de viver esta vida nebulosa, diferente e menos estruturada; transbordando compaixão, fluidez, presença e amor; porque não vivê-la? Para mim, hoje, ser mulher é ousar viver uma vida diferente daquela que me ensinaram a viver; é fazer o melhor que posso todos os dias para ouvir o leve sussurro de cada célula do meu corpo quando ele me diz para diminuir o ritmo ou para buscar mais; é recorrer à voz de minhas irmãs em busca de sabedoria quando a mente fica turva; é sorrir com a beleza de perceber minhas próprias fases; é abrir mão de todos os planos e expectativas que posso, libertar a vida que pensei que governava para, ao invés disso, deixar a vida viver através de mim.
Para mim, ser mulher hoje, acima de tudo, é aproveitar toda essa sensibilidade e intuição e, de uma vez por todas, CONFIAR na energia sem nome que sinto pulsar dentro de mim. Eu costumava ter tanto medo de tudo isso. Mas aí penso: se nós, seres nascidos como mulheres; legítimas filhas e herdeiras da Mãe Terra; nós que ouvimos este chamado, e temos toda esta bênção em mãos; se não ousamos fazer diferente... então quem o fará? A humanidade precisa de nós. À medida que reivindicamos nossa parte na dança da vida, não para impor poder, mas para recuperar o equilíbrio, beneficiamos a nós mesmas e a todos os seres deste planeta, sejam de qual gênero forem.
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